Saudades curtas

"A minha formiguinha emocional são as saudades curtas que eu tenho do João. Plenas não posso ter porque são poucos os momentos em que ele não está comigo. Mesmo não sendo muitas, essas faltas, por muito felizmente pequenas e provocadas pela necessidade, são suficientes para incutir em mim a dor, nem que seja por cinco minutos apenas, de estar separado dele. Parecem estúpidas as saudades curtas. São certamente insensíveis perante as saudades longas e profundas, que não têm cura nem, por serem insolúveis, têm a esperança de, um dia, deixarem de existir. 

São saudades de uma hora, de um almoço perdido, de uma tarde interrompida, de um dia passado. Parecem irracionais e ingratas, estas saudades curtas, de que sofrem as pessoas apaixonadas. Mas não são. Daqui a um X número de horas, vou morrer. Daqui a um Y número de horas, vai morrer o João. Morra quem morra, com a maior ou mais pequena das antecedências, o certo é que o tempo da vida e da saudade está contado. 

Cada hora que não estou com ele está para sempre, definitivamente, finitamente perdida. E é daí que vêm as saudades curtas do amor, que tomam cada momento por uma vida." 

Afinal, só por amor se vive assim.